O
tema de hoje é universidade pública.
A
presidência de Jair Bolsonaro tem trazido algumas questões
importantes sobre universidades públicas, sendo que a polêmica da
vez é a de que cursos como Filosofia e Sociologia não deveriam ter aporte de recursos públicos.
Nessa
polêmica específica, razão assiste ao governo atual.
Primeiro,
destaca-se que administrar é escolher prioridades. Fala-se muito em
corrupção como um dos grandes males relacionado aos escassos
recursos públicos. Mas não só a corrupção é responsável por
esses males – um dinheiro mal aplicado também ocasiona perdas em
áreas essenciais. O raciocínio é esse: não basta combater e
eliminar a corrupção, é preciso também fazer uma alocação
eficiente (adequada) e eficaz (que produz resultados) dos recursos
públicos. Aí reside a questão principal. O que é mais importante,
qual a área que merece mais investimentos, tudo isso é questão de
escolha do administrador público.
Feito
esse raciocínio, indaga-se: filosofia é um curso de interesse
público para ser custeado com recursos públicos federais? A
resposta é não. Não se discute aqui a importância da filosofia,
ciência que teve o seu despertar decisivo para o Ocidente
principalmente com os gregos Sócrates, Platão e Aristóteles, e
cuja história é rica em outros grandes nomes, a exemplo de Santo
Agostinho, Tomás de Aquino, Kant, Hegel, Nietzsche. Ocorre que, com
a devida vênia, a filosofia é um curso tecnicamente difícil, que
requer um estudo bastante aprofundado e estudantes já com uma boa
bagagem anterior (incluindo um bom português e uma enorme gama de
leituras). É um curso basicamente de elite, seja intelectual, seja
econômica, em que o formando basicamente terá oportunidade de ser
professor – ou seja, ganhará pouco. Não se vislumbra um curso
como esse como solução para tirar alguém da miséria ou da pobreza
e mais, para se levar uma vida de classe média, o indivíduo formado
“filósofo” ou “bacharel em filosofia” terá que, ou ser
sustentado pelos pais, ou buscar mais uma alternativa de renda.
E
mais, para ser “filósofo”, não necessariamente há de se ter um
diploma de curso superior. Muitos se arvoram nessa profissão como
escritores. E muitas vezes escritores de sucesso nem formados são.
Formatura não é pressuposto para ser escritor. Formatura
(bacharelado) é pressuposto para a vida acadêmica, para ser mestre,
doutor, professor.
Agora
passemos a comparação com outros cursos de interesse público,
podendo ser citados Medicina, Direito, Engenharia e Ciências
Biológicas. Em cada um deles, há um campo específico de interesse
público: a medicina tem a saúde das pessoas, o Direito a
administração da Justiça, a Engenharia, a construção civil e a
tecnologia, e as Ciências Biológicas a pesquisa. Em todas elas
observa-se um sentido prático, o que por si só já destoa de cursos
como os de Filosofia e Sociologia, que abrangem tão somente aspectos
teóricos.
Repita-se,
para ficar claro: não estamos aqui querendo desmerecer os cursos de
Filosofia e Sociologia, que são conhecimentos obviamente relevantes.
Estamos sim enfatizando que tais cursos não merecem o aporte de
recursos públicos. Tal assertiva não defende a extinção de tais
cursos, mas sim que tais cursos passem a fazer parte tão somente da
esfera privada de educação. São muitas faculdades privadas que
podem oferecer tais cursos.