terça-feira, 8 de julho de 2014

A MORTE DO FUTEBOL BRASILEIRO

Tudo começou em 1982. A derrota de Sarriá, em Barcelona, diante da Itália em um jogo dramático,  é o marco divisório da decadência do "futebol-arte", do futebol de belas jogadas, do futebol comandado por meias inteligentes e criativos, dos dribles. Antes disso, na década de setenta, era comum cada time ter um ou dois jogadores, que jogavam com as camisas dez e oito. O camisa dez era o cérebro do time; o oito, um meia com características ofensivas, mas menos habilidoso no passe que o dez. Hoje tudo mudou.

A Copa de 2014 mostra um Brasil muito distante da sua realidade de mundiais anteriores - mais distante ainda se pensarmos na catastrófica derrota imposta pela Alemanha sobre o nosso selecionado nas semifinais, um sete a um acachapante. Hoje não temos um "camisa dez" com características de meia atacante. Temos apenas um jogador candidato a craque: Neymar. Além do jogador do Barcelona, temos mais destaques na zaga que no meio-campo. Os laterais são ruins - Daniel Alves, fraco na marcação e no levantamento de bolas, Maicon sempre fracassando quando atua na seleção e Marcelo, esse último não conseguindo repetir o sucesso que faz em seu clube, o Real Madrid, pela seleção, jogando de maneira afoita e sem técnica de marcação. Os volantes revelaram-se fracos, sem grande qualidade no passe e na condução do jogo ofensivo. O idolatrado Luís Gustavo só sabe dar "passe de lado" e William, Hernanes e Ramires provaram ser jogadores de time.  Por seu turno, o atacante Fred provou que é bom para clube, mas fraco para compor selecionado e fazer o papel que já foi de Careca, Romário e Ronaldo Fenômeno, esses três últimos jogadores de qualidade bastante superior ao primeiro. 

O futebol brasileiro morreu. É a era dos volantes e da marcação. A era da defesa no futebol. Só ganha jogo quem marca bem no setor defensivo, deixando poucos espaços para o adversário. O jogo Holanda e Argentina, nas semifinais da copa de 2014, revela-nos muito bem essa nova faceta do futebol de poucos espaços para o craque. Zero a zero, com muita garra, mas com pouco espaço para a individualidade decisiva, o drible marcante, a jogada encantadora. Um embate que terminou com uma justa decisão por penalidades máximas.

 Hoje em dia nossos melhores jogadores transferem-se para a Europa muito cedo, o que explica, em grande parte, a perda do "jeito brasileiro de jogar", cheio de malícia e dribles. Fazendo um paralelo, é o mesmo fenômeno que acontece com o futebol africano, que antes se virava no "jeito moleque" de jogar, com nomes como Roger Milla, Yekini, dentre outros, e hoje joga com esquema de jogo tipicamente europeu. Privilegia-se o jogador alto, forte, vigoroso em detrimento do baixinho habilidoso. Hoje, o jogo é mais físico que técnico. Grande parte dos jogos é decidido a favor do time de melhor preparo físico. Hoje, o binômio preparo físico e vontade de vencer (a "raça") é o mais fundamental e prevalece nas disputas.

É esperar, portanto, para quem aprecia o futebol bem jogado, lampejos de jogadores de melhor qualidade. É pouco para quem aprecia o chamado "futebol arte". O futebol brasileiro ficou parado no tempo. Acabaram-se os dribles. Acabou-se a emoção de ver craques do nível de Garrincha, Pelé, Rivelino, Tostão, Romário, Ronaldo. Acabou o "camisa dez". Sobrou a frustração da era dos volantes sem técnica, mas com muito vigor físico, cheios de energia só para marcar. Uma pena.