segunda-feira, 29 de abril de 2019

FILOSOFIA PÚBLICA


O tema de hoje é universidade pública.

A presidência de Jair Bolsonaro tem trazido algumas questões importantes sobre universidades públicas, sendo que a polêmica da vez é a de que cursos como Filosofia e Sociologia não deveriam ter aporte de recursos públicos. 

Nessa polêmica específica, razão assiste ao governo atual.

Primeiro, destaca-se que administrar é escolher prioridades. Fala-se muito em corrupção como um dos grandes males relacionado aos escassos recursos públicos. Mas não só a corrupção é responsável por esses males – um dinheiro mal aplicado também ocasiona perdas em áreas essenciais. O raciocínio é esse: não basta combater e eliminar a corrupção, é preciso também fazer uma alocação eficiente (adequada) e eficaz (que produz resultados) dos recursos públicos. Aí reside a questão principal. O que é mais importante, qual a área que merece mais investimentos, tudo isso é questão de escolha do administrador público.

Feito esse raciocínio, indaga-se: filosofia é um curso de interesse público para ser custeado com recursos públicos federais? A resposta é não. Não se discute aqui a importância da filosofia, ciência que teve o seu despertar decisivo para o Ocidente principalmente com os gregos Sócrates, Platão e Aristóteles, e cuja história é rica em outros grandes nomes, a exemplo de Santo Agostinho, Tomás de Aquino, Kant, Hegel, Nietzsche. Ocorre que, com a devida vênia, a filosofia é um curso tecnicamente difícil, que requer um estudo bastante aprofundado e estudantes já com uma boa bagagem anterior (incluindo um bom português e uma enorme gama de leituras). É um curso basicamente de elite, seja intelectual, seja econômica, em que o formando basicamente terá oportunidade de ser professor – ou seja, ganhará pouco. Não se vislumbra um curso como esse como solução para tirar alguém da miséria ou da pobreza e mais, para se levar uma vida de classe média, o indivíduo formado “filósofo” ou “bacharel em filosofia” terá que, ou ser sustentado pelos pais, ou buscar mais uma alternativa de renda.

E mais, para ser “filósofo”, não necessariamente há de se ter um diploma de curso superior. Muitos se arvoram nessa profissão como escritores. E muitas vezes escritores de sucesso nem formados são. Formatura não é pressuposto para ser escritor. Formatura (bacharelado) é pressuposto para a vida acadêmica, para ser mestre, doutor, professor.

Agora passemos a comparação com outros cursos de interesse público, podendo ser citados Medicina, Direito, Engenharia e Ciências Biológicas. Em cada um deles, há um campo específico de interesse público: a medicina tem a saúde das pessoas, o Direito a administração da Justiça, a Engenharia, a construção civil e a tecnologia, e as Ciências Biológicas a pesquisa. Em todas elas observa-se um sentido prático, o que por si só já destoa de cursos como os de Filosofia e Sociologia, que abrangem tão somente aspectos teóricos.

Repita-se, para ficar claro: não estamos aqui querendo desmerecer os cursos de Filosofia e Sociologia, que são conhecimentos obviamente relevantes. Estamos sim enfatizando que tais cursos não merecem o aporte de recursos públicos. Tal assertiva não defende a extinção de tais cursos, mas sim que tais cursos passem a fazer parte tão somente da esfera privada de educação. São muitas faculdades privadas que podem oferecer tais cursos.



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