sexta-feira, 21 de junho de 2013

O QUE É CIDADANIA?

Cidadania. Palavra às vezes esquecida do vocabulário do brasileiro, dada a sua habitual aquiescência com o estado de coisas e os poucos avanços, sociais e econômicos, ocorridos em nosso país, durante os cinco séculos de existência. Palavra que, no entanto, vem se reforçando no atual momento, com as manifestações pacíficas que estão acontecendo em várias unidades da Federação.

Sempre tive certa contrariedade com a definição de cidadão imposta pela chamada "Lei da Ação Popular" (Lei 4.717/68), no seu art. 1º, §3º. Segundo os estudiosos da seara jurídica, em uma visão puramente legalista ou exegética, somente os eleitores (todos acima dos dezoito, alguns entre dezesseis e dezoito) poderia ser considerados cidadãos aptos para propor ou manejar tal ação. É um conceito muito restritivo, que considera cidadão apenas quem possui um título de eleitor. Além de restritivo, é formal.

Assim, o que quero deixar claro aqui é que não basta alguém possuir um título de eleitor. Torna-se necessário rever este conceito legalista ultrapassado, adotando um viés material. Assim, o ato de votar é apenas um dos atos de cidadania. Os outros são, a saber, cobrar, fiscalizar, ter iniciativa de propor leis e manifestar-se legitimamente. Assim, não basta ao eleitor simplesmente votar e esquecer em quem votou,. Votar e deixar de fiscalizar o seu representante durante os quatro anos seguintes. Votar e virar as costas para o que está acontecendo.

Vale dizer ainda que a cidadania é um dos pilares da democracia. Mas só tem cidadania plena quem tem educação. Noutras palavras, somente um país que investe na educação é que poderá alcançar a tão sonhada prosperidade, com uma cidadania não apenas formal, mas também de cunho material. Uma política que possa transformar um país subdesenvolvido em desenvolvido, num lapso de trinta anos, como ocorreu na Coreia do Sul e na Noruega.

No que diz respeito aos vândalos, abre-se aqui um parênteses para dizer que tais atos violentos devem ser reprimidos, uma vez que são criminosos e destituídos de qualquer razoabilidade. Não são atos de cidadania; são, antes de tudo, atos de selvageria. A manifestação deve ser livre, democrática e, acima de tudo, pacífica. Cidadania é respeito, tanto nos atos do cotidiano, quanto nos atos de manifestação. Na Argentina, país extremamente politizado, os manifestantes, quando percebem atos de vandalismo, sentam-se e espera a ação da polícia contra os baderneiros. Fica a sugestão para a mesma atitude em manifestações no Brasil. A polícia deve agir contra os baderneiros, e tão somente contra eles. Contra os que lutam por cidadania, não há lugar para armas e prisões.

Lutar por um país melhor. Um dever de cidadania.

terça-feira, 11 de junho de 2013

ELITIZAÇÃO E SAUDOSISMO DA GERAL

A Copa do Mundo no Brasil vem gerando muitos debates calorosos. A maioria deles, é verdade, trata dos aspectos relacionados à construção e reforma de estádios, com a já tradicional desconfiança de que estejam acontecendo atos de corrupção, superfaturamento, etc. Mas aqui vamos tratar de um outro detalhe, alvo de críticas por parte da crítica especializada, notadamente de um canal pago: a elitização do futebol.  E o saudosismo da geral e dos “geraldinos”.

Pois bem.

Um famoso comentarista, conforme ressaltado alhures, de tendência nitidamente esquerdista (comunista de carteirinha) vem se digladiando contra a “elitização” do futebol e o “embranquecimento do estádio” (nas palavras dele, proferidas no programa “Linha de Passe”, mesa redonda semanal), por causa dos absurdos preços dos ingressos. Segundo o referido comentarista, a torcida estaria agindo de maneira pouco usual, distinta do comum quando temos jogos entre times, por ser uma torcida de “filhinhos de papai”, que não saberiam torcer. E aí, além de uma “discriminação às avessas”, aparece o saudosismo da geral e dos geraldinos.

Discordo do posicionamento desse ilustre comentarista.

Primeiro, porque não devemos confundir preço do ingresso com a forma como a torcida de seleção brasileira age. Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. Não estou aqui para defender o preço dos ingressos –muitas vezes caríssimos – mas também não acredito que a solução seja criticar quem pode pagar por eles – a tal elitização combatida. Isso é fruto de um discurso maniqueísta, próprio de divulgações da ala esquerdista da política, que acredita que todo mal da sociedade advém da classe mais abastada.

Aliás, é válido dizer que torcidas de time possuem uma organização muito maior que a da seleção brasileira, onde todos estão misturados. Há, em seleções, um aspecto de dissipação, o que não impede os torcedores de, não raras as vezes, vaiarem o treinador ou um jogador específico, como aconteceu com o atacante Hulk no amistoso contra a Inglaterra.

Há de se ressaltar que, no caso dos clubes, o futebol envolve custos sendo, portanto, imperioso, a adoção de um preço de ingresso no valor mínimo de 40 (quarenta) reais. Ou um pouco menos, dependendo da avaliação dos clubes. Caso contrário, o esporte bretão restará inviabilizado em nosso país, notadamente diante do aspecto econômico e do impulso europeu em contratar os melhores jogadores. Ademais, quando se fala em shows, ninguém reclama de preço de ingressos - e, em certa medida, um grande jogo é um grande show, como os da Copa do Mundo, por exemplo.

Em segundo lugar, discordo também do posicionamento acerca da antiga geral, que existia em estádios como Mineirão e Maracanã. A antiga geral, para quem já teve a oportunidade de assistir a um jogo nela, era uma clara afronta ao Código de Defesa do Consumidor, uma vez que o torcedor não tinha uma visão adequada do campo (só se viam as pernas do jogador) e nenhum tipo de conforto (torcedor permanecia em pé durante todo o tempo). Estar com saudades da “geral”, em nome dos “geraldinos” (pessoas que vestiam trajes espalhafatosos, mas que padeciam de problemas sociais graves, sendo ali apenas um reforço da exclusão da qual padeciam), é simplesmente estar fora da realidade. Devemos, sim, defender a modernização dos estádios. Não só dos estádios, mas de toda a carente infraestrutura brasileira (aeroportos, ferrovias, rodovias), hoje bastante decadente. Saudosismo é uma palavra que não me agrada de jeito nenhum. O que passou, passou. Modernização me agrada muito mais.

Olhar para a frente. Para o moderno. Para o futuro. Sem olhar para trás.

Buscar soluções. Não “demonizar” ou “discriminar” quem quer que seja, seja branco ou negro. É assim que o Brasil dará seus primeiros passos rumo a um maior desenvolvimento.